terça-feira, 5 de abril de 2011

DOENçAS CRôNICAS: COMO IDENTIFICAR, PREVENIR E TRATAR
2011-03-21
A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que as doenças crônicas de declaração não obrigatória, como as doenças cardiovasculares, a diabetes, a obesidade e as doenças respiratórias, representam cerca de 59% do total de 57 milhões de mortes por ano e 46% do total de doenças. Afetam países desenvolvidos e países em vias de desenvolvimento, como o Brasil.
A expansão das doenças crônicas reflete os processos de industrialização, urbanismo, desenvolvimento econômico e globalização alimentar, que acarretam: alteração das dietas alimentares; aumento dos hábitos sedentários; crescimento do consumo de tabaco; cerca de metade das mortes causadas por doenças crônicas está diretamente associada às doenças cardiovasculares.
Os ataques cardíacos e os infartos do miocárdio matam cerca de 12 milhões de pessoas por ano. A hipertensão e outras doenças cardíacas matam, por sua vez, 3,9 milhões de pessoas. Cerca de 75% das doenças cardiovasculares são atribuíveis a: colesterol elevado; tensão arterial elevada; dieta pobre em frutas e vegetais; sedentarismo e tabagismo.
Calcula-se que, em todo o mundo, existam 177 milhões de pessoas a sofrer de diabetes, sobretudo do tipo 2. Dois terços do total vivem nos países em vias de desenvolvimento. Milhões de adultos sofrem de excesso de peso, sendo pelo menos 300 milhões clinicamente obesos.
Já está comprovado que as intervenções comportamentais sustentadas são eficazes na redução dos fatores de risco para a população. Mais de 80% dos casos de ocorrência de doenças cardíacas coronárias e 90% dos casos de diabetes de tipo 2 podem ser evitados através da alteração dos hábitos alimentares, do aumento de atividade física e do abandono do tabagismo.
O leitor do DIÁRIO DE CARATINGA, Walter de Paula, entrevistou a médica Lívia Sara Henrique Vasconcelos, que falou sobre essas doenças, suas causas e sintomas.

Dra. Lívia, o que é doença crônica?
Para quem ainda não sabe, é considerada doença crônica a doença que não é resolvida, a qual necessita de tratamento e cuidado constante para amenizar os sintomas e efeitos das mesmas. As doenças crônicas não colocam nenhum risco à vida do indivíduo em um prazo curto, sendo que em longo prazo não são emergenciais. Porém, este tipo de doença pode ser sério ao extremo, como por exemplo, alguns tipos de câncer que podem levar o indivíduo a óbito. No entanto, as doenças crônicas podem diminuir a qualidade de vida das pessoas, como já dito, não colocando em risco a sua vida, mas sim incômodos resultantes dos sintomas causados pelas doenças, colocando em risco a sua saúde física, e em últimos casos, síndromes dolorosas.
Desta forma, as doenças crônicas são as que contam com uma evolução prolongada e permanente, onde as quais atualmente não contam com cura. Este tipo de doença atua de forma negativa na saúde do indivíduo, mas seus efeitos podem ser controlados, melhorando assim a qualidade de vida do mesmo.

Quais são as doenças crônicas consideradas mais comuns?
São várias, mas as que mais atendemos em nossos consultórios são hipertensão, obesidade, diabetes, artrites, doenças respiratórias, fibromialgia e podemos destacar também o tabagismo.

Comente sobre cada uma dessas doenças, suas causas, riscos e formas de tratamento.
Hipertensão
A hipertensão, também conhecida como pressão alta, é uma doença silenciosa que afeta os vasos sanguíneos, coração, cérebro, olhos e rins. Por ser uma doença silenciosa, ou seja, apresenta alguns sintomas somente quando a pressão está bastante elevada, muitas vezes pode passar desapercebida até uma complicação maior, com o comprometimento de um dos órgãos acima citados.
Apesar de ser uma doença que em 90% das vezes é herdada dos pais, ela apresenta outros fatores desencadeantes, como o tabagismo, o consumo de bebidas alcoólicas, obesidade, estresse, sedentarismo, consumo exagerado de sal e colesterol alto.
Seus sintomas (dores no peito, fraqueza, dor de cabeça, tontura, zumbido no ouvido e perda de sangue nasal) podem ser percebidos somente quando a pressão já está bem elevada.
A hipertensão é uma doença que não tem cura, somente controle através de tratamento e acompanhamento médico. A melhor forma de evitá-la é através da prevenção.
Sua prevenção se dá através de um estilo de vida saudável, com a prática diária de atividade física, manter um bom hábito alimentar, evitar alimentos gordurosos, manutenção do peso adequado, controle de diabetes, ingestão de pouca quantidade de sal, não fumar, não beber e procurar aproveitar os momentos de lazer.
Obesidade
A obesidade e a pré-obesidade são avaliadas pelo Índice de Massa Corporal (IMC). Este índice mede a corpulência, que se determina dividindo o peso (quilogramas) pela altura (metros), elevada ao quadrado.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, considera-se que há excesso de peso quando o IMC é igual ou superior a 25 e que há obesidade quando o IMC é igual ou superior a 30.
No entanto, em certos casos, nomeadamente nos atletas, nos indivíduos com edemas e com ascite (hidropisia abdominal), o IMC não é fiável na medição da obesidade, pois não permite distinguir a causa do excesso de peso.
O tratamento médico para a obesidade passa pela combinação de dieta de baixas calorias, modificação comportamental, e aumento da atividade física. Quando com a modificação do estilo de vida não se consegue atingir os objetivos, é necessário o uso de fármacos anti-obesidade.
A perda de peso, mantida a longo prazo, é fundamental. São inúmeros os benefícios que acarreta para a saúde em geral e para a melhoria da qualidade de vida. Reduz, igualmente, a mortalidade e contribui inexoravelmente para a melhoria das doenças crônicas associadas. Pequenas perdas de peso (diminuição de cinco a dez por cento do peso inicial) melhoram o controlo glicêmico, reduzem a pressão arterial e os níveis de colesterol.
A perda de peso reduz o risco cardiovascular, pelos efeitos positivos na redução da tensão arterial e nos processos de hiper coagulação. Nesta melhoria tem grande influência o tipo de regime alimentar adotado (restrição do sal e gorduras saturadas), a atividade física e a abolição de hábitos de fumar.
A perda de peso intencional reduz a mortalidade nos obesos com doença cardiovascular associada.

Diabetes
A diabetes é uma doença crônica que se caracteriza pelo aumento dos níveis de açúcar (glicose) no sangue e pela incapacidade do organismo em transformar toda a glicose proveniente dos alimentos. À quantidade de glicose no sangue chama-se glicemia e quando esta aumenta diz-se que o doente está com hiperglicemia.
A diabetes é uma doença em crescimento, que atinge cada vez mais pessoas em todo o mundo e em idades mais jovens. No entanto, há grupos de risco com fortes probabilidades de se tornarem diabéticos: pessoas com familiares diretos com diabetes; homens e mulheres obesos; homens e mulheres com tensão arterial alta ou níveis elevados de colesterol no sangue; mulheres que contraíram a diabetes gestacional na gravidez; crianças com peso igual ou superior a quatro quilogramas à nascença; doentes com problemas no pâncreas ou com doenças endócrinas.

Nos adultos - A diabetes é, geralmente, do tipo 2 e manifesta-se através dos seguintes sintomas: urinar em grande quantidade e muitas mais vezes, especialmente durante a noite (poliúria); sede constante e intensa (polidipsia); fome constante e difícil de saciar (polifagia); fadiga; comichão (prurido) no corpo, designadamente nos órgãos genitais; visão turva.
Nas crianças e jovens - A diabetes é quase sempre do tipo 1 e aparece de maneira súbita, sendo os sintomas muito nítidos. Entre eles encontram-se: urinar muito, podendo voltar a urinar na cama; ter muita sede; emagrecer rapidamente; grande fadiga, associada a dores musculares intensas; comer muito sem nada aproveitar; dores de cabeça, náuseas e vômitos.
Para prevenir a diabetes, é preciso manter um controle rigoroso da glicemia, da tensão arterial e dos lípidos; vigilância dos órgãos mais sensíveis, como a retina, rim, coração, nervos periféricos, entre outros; bons hábitos alimentares; prática de exercício físico; não fumar.

Artrite
A artrite é um processo inflamatório que se manifesta nas articulações, tendo como conseqüência, alguns sinais e sintomas (inchaço nas articulações, rigidez, dor) decorrentes de lesões articulares.
A palavra artrite significa literalmente inflamação da articulação, mas freqüentemente é utilizada para se referir a um grupo de mais de 100 doenças reumáticas que podem causar dor, enrijecimento e edema das articulações. Estas doenças podem afetar não somente as articulações mas também outras partes do corpo, incluindo estruturas tão importantes como músculos, tendões, ossos, ligamentos e diversos órgãos internos.
A dor da artrite decorre de diferentes fatores, dentre eles: inflamação da membrana sinovial, dos tendões, dos ligamentos, das fibras musculares, e fadiga. A combinação destes fatores contribui para a intensidade da dor.
A intensidade da dor na artrite varia grandemente de indivíduo para indivíduo. Cada pessoa possui um limiar diferente para a dor, o que depende de aspectos físicos e emocionais – depressão, ansiedade, e até mesmo hipersensibilidade nos locais afetados pela artrite.

Doenças respiratórias
As doenças respiratórias são as que afetam o trato e os órgãos do sistema respiratório. Os fatores de risco são: o tabagismo, a poluição, a exposição profissional a poluentes atmosféricos, as condições alérgicas e doenças do sistema imunitário, entre outros.

Pneumopatias
Grupo de doenças pulmonares, entre as quais se destacam a atelectasia, as doenças pulmonares intersticiais, neoplasias pulmonares, tuberculose pulmonar, hipertensão pulmonar, pneumopatias obstrutivas, pneumonia, pneumopatias fúngicas, pneumopatias parasitárias, síndroma do desconforto respiratório do recém-nascido.

Doenças nasais
Doenças do nariz em geral ou não especificadas. Exemplos de doenças nasais são as neoplasias nasais, doenças dos seios paranasais e a rinite. A epistaxe (derramamento de sangue pelas fossas nasais), a granuloma letal da linha média, a obstrução nasal, as deformidades adquiridas nasais, a rinoscleroma (infecção) e os pólipos nasais (tumores) integram-se também nas doenças nasais.

Infecções respiratórias
Infecções do trato respiratório superior. Resultam dessas infecções as seguintes doenças: empiema pleural, complexo da doença respiratória bovina, bronquite, laringite, legionelose (doença do Legionário), pneumopatias fúngicas, pneumopatias parasitárias, pleurisia, pneumonia, rinite, sinusite, tonsilite, tuberculose pleural, tuberculose pulmonar, coqueluche, resfriado comum, influenza, abcesso pulmonar, faringite, rinoscleroma, síndrome respiratória agudo grave, traqueíte (inflamação da traqueia) e tuberculose laríngea.
As doenças respiratórias são diagnosticadas pela observação clínica, através de técnicas e meios complementares de diagnóstico, entre os quais: testes da função respiratória, testes de sons respiratórios, broncografia, broncoscopia, laringoscopia, radiografia pulmonar de massa, depuração mucociliar, testes de provocação nasal, rinomanometria e rinometria acústica.
Cada doença tem sintomas específicos, que só o médico pode avaliar. Contudo, a tosse, a rouquidão, o nariz entupido, dores no peito, dores de garganta, garganta irritada, pingo no nariz, dificuldade em respirar quando não está a fazer esforço (a subir escadas, a andar, a fazer exercício), dispneia, entre outros, são sintomas de doença respiratória.

Fibromialgia

A fibromialgia é uma síndrome clínica que se manifesta com dor no corpo todo, principalmente na musculatura. Comumente a fibromialgia cursa com sintomas de fadiga, intolerância ao exercício e sono não repousante (isto é, a pessoa acorda cansada). Nós, médicos, chamamos a fibromialgia de uma síndrome, pois ela é caracterizada por um grupo de sintomas sem que seja identificada uma causa única para eles.
Não existe ainda uma causa única conhecida para a fibromialgia, mas já temos algumas pistas porque as pessoas têm esta síndrome. Os estudos mais recentes mostram que os pacientes com fibromialgia apresentam uma sensibilidade maior à dor do que pessoas sem fibromialgia.
É importante ressaltar que a fibromialgia afeta mais mulheres do que homens, e que o tratamento se divide em quatro pontos principais:
1- exercícios: este é o ponto mais importante do tratamento.
2- tratamento do sono: o objetivo é melhorar a qualidade do sono, não sua quantidade.
3- tratamento de dor: embora não exista um analgésico que tire toda dor em um paciente com FM, este é um item importante no tratamento.
4- controle da ansiedade/ depressão: não se deve perder tempo pensando se as manifestações de alterações do humor, desânimo e tristeza são a causa ou a conseqüência da fibromialgia.

Tabagismo
Anualmente cerca de 4,9 milhões de pessoas morrem, em todo o mundo, em resultado do tabagismo. Se a epidemia não for travada, estima-se que, em 2020/30, esse número chegará aos 10 milhões de pessoas por ano.
Uma vez iniciado o consumo do tabaco, rapidamente se transforma em dependência (física e psíquica), provocada por uma droga psicoativa - a nicotina – presente na folha do tabaco.
O fumo produzido pelo consumo do tabaco contém mais de quatro mil compostos químicos com efeitos tóxicos e irritantes, dos quais mais de 40 são reconhecidos como cancerígenos.
O tabagismo não é fator de risco apenas para o próprio fumante, mas também para aqueles que, não sendo fumantes, se encontram frequentemente expostos ao fumo passivo. Dados recolhidos em 1992, pela Comissão Europeia, revelaram que 29 por cento dos fumantes portugueses nunca se abstêm de fumar em presença de não-fumantes.
Estudos epidemiológicos confirmam a associação entre o tabagismo e: 90% dos casos de cancro do pulmão; cancro do aparelho respiratório superior (lábio, língua, boca, faringe e laringe); cancro da bexiga, rim, colo do útero, esôfago, estômago e pâncreas; doenças do aparelho circulatório, dos quais a doença isquêmica cardíaca (25 por cento); bronquite crônica (75-80 por cento), enfisema e agravamento da asma; irritação ocular e das vias áreas superiores.
Fumar reduz a esperança média de vida em cerca de dez anos. Só pra finalizar, o consumo de tabaco é, nos dias de hoje, a principal causa de doença e de mortes evitáveis.

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